Lírica para uma ave
Num céu de chumbos e baionetas
caladas,
sobre uma floresta de sono e
demência,
tonta, esvoaça perdida
uma ave sangrenta.
Na turva e opressa manhã
se anuncia a cólera do tempo.
Na hora
da aurora,
gemem ventos,
fluem surdos rios.
Cerra os olhos,
cala na garganta
a voz,
acorda audível
o pensamento:
No escuro cerne da floresta
com sorrisos dependurados à entrada,
degola-se uma ave.
Por enquanto mais nada, senão
o torvo tinir dos talheres
no banquete da morte impossível.
Rui Knopfli (1959) O País dos Outros.
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