15/07/11

Lírica para uma ave (Rui Knopfli )


Lírica para uma ave

Num céu de chumbos e baionetas
caladas,
sobre uma floresta de sono e
demência,
tonta, esvoaça perdida
uma ave sangrenta.
Na turva e opressa manhã
se anuncia a cólera do tempo.

Na hora
da aurora,
gemem ventos,
fluem surdos rios.

Cerra os olhos,
cala na garganta
a voz,
acorda audível
o pensamento:

No escuro cerne da floresta
com sorrisos dependurados à entrada,
degola-se uma ave.
Por enquanto mais nada, senão
o torvo tinir dos talheres
no banquete da morte impossível.

Rui Knopfli (1959) O País dos Outros.

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